quarta-feira, maio 14, 2008

THE NATIONAL...NA AULA MAGNA

Saberá sempre a pouco o comentário à presença inesquecível dos The National na Aula Magna, ainda assim perante a ininterrupta avalanche de imagens que testemunham as mais variadas e até delirantes actividades (para o bem e para o mal) e emoções de prováveis e improváveis dinamizadores da música popular, é irresistível irromper pelo ritmo do silêncio com a furiosa performance de Matt Berninger quando cantando «Mr November» inscreveu todas as emoções de um conjunto notável de canções neste momento único, o mais simbólico da noite naquele que é um dos concertos de sempre da Aula Magna e um dos candidados a momento do ano. Quem não viu tem aqui o acesso possível e pode obviamente lamentar a ausência.

terça-feira, dezembro 18, 2007

A CURTA TRAVESSIA DO TEMPO

Para além do sempre irrecusável oportunismo de averiguar no mercado a capacidade deste esgotar a galinha dos ovos de ouro que outro factor que não a ousadia de investigar a raíz do fruto apetecido presidiria a uma acção estética pluridesciplinar em torno de um monumento instantaneamente consagrado e remetido sem mácula para o dominio dos paradigmas da fusão soul-funk e fonte de inspiração para os espiritos criativos vindouros?
Talvez porque, mais do que um episódico «lifting» de contornos económicos num projecto que promete a felicidade ao virar a montanha o «leit-motiv» inscrito na origem permita aceder ao fundamental da questão e mais uma vez entrever nesse tão vital como imperativo traço humano a legitimidade atribuida a quem vê mais longe mesmo que o espirito mais optimista vislumbre sempre a metade cheia do copo. E que afinal a tarefa atribuida a um conjunto de iminentes signatários da outrora mais bem cotada actividade da remistura seja, nem a dentada repetida no mesmo fruto, ou a desplindagem estética em proveito próprio mas antes a afirmação da luz que conduz à perenidade da árvore e da laboriosa empresa que a transporta no tempo.
Se o figurino proposto convocaria à inibição perante o objecto perfeito e engeitaria de imediato o «toque de midas», a sabedoria no reagrupamento das particulas sonoras nucleares – naturalmente o espaço vocal – bem como a condução meticulosa da vibração motriz original suportada então pela acção instrumental em regime de grupo - sem nunca dela perder o vinculo - para a realidade pós-tecno, alargada à dimensão pessoal dos intervenientes, tornou a dispôr a matéria de recorte clássico e calor melódico num espaço onde parecia não caber uma agulha e assim alargar o horizonte agora disperso pelas incidências contemporâneas da mesa de mistura: Do reggae-versão «smooth»(Dynamics), ao «techno» assediado ora pela pista de dança(Afronaut) ora pela sua leitura mais ambiental (Blackbeard), da luxuriante disposição da voz em cenário «low-fi-swing»(Mr Scruff), à aplicação de um modelo ««Afro-Rock»(Lack of Afro), o irresistível contágio com o Brasil(Elisabeth Shepperd Trio) e o fôlego ainda revelado pelo breakbeat(Simbad), tudo parece convocar a faceta ritmica-groove como principio catalizador da fórmula “quem insiste sempre alcança”, sobretudo quando prazer, fruição, intuição e vontade criativa parecem fornecer as asas para olhar do amplo observatório que Keep Reachin' Up já convidava e suprimir da condição de relevo a escala do tempo.
Se mais não houvesse, o feliz apuramento na reordenação da matéria no espaço e a precisão na clareza do discurso essencial à luz da sua matriz urbana, restituiria a preceito a imagem perdida pela cultura da “assemblage” sonora face à voracidade do mercado em constante procura, mas a «dádiva» propiciada pela aventura singular de um objecto em trânsito inedefinido pela sua «condição existencial» de recorte «retro» - a «alma negra» de Filadélfia, New Orleans e Detroit – e a vertigem contemporânea de todas as «encenações» - com base em Helsinquia - terá encontrado na extensiva dinamização da sua convicção espiritual e veia libertadora, por uma vaga de militantes da causa «electrónica», um acto partilhado de fé, aplicação do génio e afirmação subtil e simbólica da reinvenção do tempo e espaço em música. Empolgante!
(“Keep Reachin' Up Remixed”, ed. Above the Clouds/2007)

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Santa Fé, Beirut, «Nantes» em Paris!




Zach Condon e os Beirut no tema "Nantes", esplendoroso momento da escrita (e encenação) pop e marco singular de 2007, aqui numa aparição de rua, voz contagiante de nudez, subtraida à roupagem de estudio, num genuino apelo aos sentidos, ao corpo, à partilha e à descoberta tal como o seu álbum "Flying Club Cup", enérgico, inteligente, sublimação operática do texto feito melodia, rigor instrumental disfarçado de fanfarra balcânica, feerismo latente, num cativante, prodigioso e fulgurante investimento de um americano de Paris aos 20 anos.

Em estúdio...

terça-feira, julho 31, 2007

A Vida




sexta-feira, abril 20, 2007

O regresso à paisagem...fundamental!

Quando a música (negra) reencontra os desejos fundamentais da sua origem. Ou a Essência dos elementos e da Forma no que isso traduz de inevitável apelo à sublime depuração do objecto essencial. O mergulho no «State of the Art». Ou melhor: quando o futuro devolve à origem um dos seus objectos mais secretos (Nicole) ou quando sonhar acordado parece ser o trajecto de vitalidade com o futuro sempre ao alcance da mão (Peven).


- Peven Everett "Power Soul"

- Nicole Willis & The Soul Investigators "Keep Reachin' Up"

sábado, novembro 04, 2006

OS OLHOS DE LAURA VEIRS


...ou o seu mundo encantado.
Do Universo e do silêncio das coisas o ritmo é o da sensibilidade cardiaca em trânsito pela afirmação pulsante da luminária estelar. O brilho é o dos olhos de Laura, como poderia ser de Suzanne. Porque tal como Vega(Suzanne), Laura increve o seu mundo delicado e subtil num mapa cuja geografia intelectual é a do conto poético - num lirismo dir-se-ia infantil, observação inocente dos gestos mais quotidianos e simbólicos - e a emocional é a da ambigua convivência entre a (des)encantada aceitação da vulnerabilidade e a luz que conquista o espaço - abrigo do indizivel afecto vital - apenas permitida por uma racha numa parede («a sliver crack of light is all you need to see»,"Black Gold Blues", Year of Meteors) ). Que tudo permaneça sobre a tangente à glória mais radiosa e prematura eis um modesto e prudente reconhecimento de um «olhar» singular, desenhado nos traços de uma tão sábia quanto estimulante contradição: que resgata ao onirismo sedutoramente sombrio a melodia mais genuinamente contaminada pelo(s) desejo(s) e a singularidade quase rejubilatória dessa celebração:
«I I took you darling / to the caverns of my heart / would you light the lamp dear / would you light the lamp dear(...) "I believe in you / in your honesty and your eyes / even when I'm slashing / in the muck of my demise / a large part of me / is always and forever tied / to the lamplight / of your eyes, of your eyes» ("Spelunking", Year of Meteors).
Perante a dimensão de um discurso insinuante e de invulgar delicadeza formal resta-nos agradecer a decisiva contribuição de Tucker Martine (percussionista e produtor) e dos «The Tortured Souls», e prosseguir a trajectória enunciada na carta celestial cujo sistema astral já povoado por pontos de luz em cintilante reafirmação, de Dylan, Cohen, Nick Cave ou Suzzane Vega a Nina Nastasia ou Neko Case encontra agora não uma mas 2 vibrantes centelhas com coração dividido por Seattle. Este texto encontra-se envolvido em 2 sublimes momentos de vibrante emoção e tocante sensibilidade, os videos para os temas Galaxies e Magnatized incluidos no álbum "Year of Meteors".

Quem ainda não se envolveu com o mundo de Laura Veirs tem, para além da notável discografia toda publicada em Portugal - de que se sublinham os 2 ábums da Nonesuch, os imprescindiveis "Carbon Glacier"(2004) e "Year of Meteors"(2005) -, um irresistivel encontro marcado para 27 deste mês no Santiago Alquimista, numa oportunidade que dispensa mais recomendações. A não perder!










SPELUNKING, por L.V.

"I I took you darling
to the caverns of my heart
would you light the lamp dear?
would you light the lamp dear?
And see fish without eyes
Bats with their heads
Hanging down towards the ground
Would you still come around
Come around?
I believe in you
in your honesty and your eyes
even when I'm slashing
in the muck of my demise
a large part of me
is always and forever tied
to the lamplight
of your eyes, of your eyes"